CMEI VILA LORENA

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terça-feira, 19 de setembro de 2017

O planejamento nosso de cada dia

     Estamos estudando e conversando muito sobre o planejamento, já aprendemos que faz parte das atribuições do profissional de educação, no entanto estamos buscando encontrar a melhor forma de realizá-lo no contexto da Educação Infantil.
     As mudanças têm suscitado vários questionamentos e muitas angústias,  pois temos percebido que esse caminho está nos levando a lugares desconhecidos e o desconhecido sempre assusta!
     A partir do momento que passamos a ver a criança enquanto sujeito e que passamos a olhar para ela respeitando seus tempos e espaços entramos em conflito com a maneira que vinhamos organizando o trabalho pedagógico porque os planejamentos descrevem atividades a serem realizadas no decorrer do dia com cada turma e se eles são pensados para as crianças onde entra a autonomia delas? Se estão organizados de acordo com a rotina estabelecida pelos adultos onde entra o respeito ao tempo das crianças que nunca é o mesmo? Questionamentos como esses têm assombrado nossos pensamentos enquanto pensamos nos planejamentos.
      Como eliminá-los? Onde encontrar as respostas? Como aplacar as angústias que nos assombram?
      O caminho não parece fácil porque estamos reaprendendo a olhar para ver...
      Como assim?
    Temos percebido que nesse processo nossa melhor estratégia tem sido a observação. Observar, observar e voltar a observar...
      Mas observar exatamente o quê?
      Observar nossas ações diante do grupo de crianças que atendemos.
      Observar as crianças em suas brincadeiras.
      Observar as crianças enquanto executam as ações planejadas para elas...
      Observar nossas reações diante das crianças e dos colegas na sala.
      Observar as crianças enquanto comem, dormem, conversam e se relacionam na sala e fora dela.
      Observar se aquilo em que acreditamos faz o mesmo sentido sempre.
       Observar se nossas certezas estão mesmo certas.
      Observar para ver cada vez mais fundo nossa própria identidade profissional...
     Mas além de observar também precisamos ouvir, ouvir o que nos dizem, o que dizem entre si, o que não conseguem dizer, ouvir os sons e os silêncios presentes em nosso cotidiano. Observando e ouvindo, ouvindo e observando... quem sabe com essas ferramentas sejamos capazes de encontrar respostas ou elaborar novas perguntas...
      Para nos ajudar nessas reflexões vamos ver o vídeo abaixo:

      Era uma vez uma garotinha que sonhava em ser bailarina...
      Ops, essa não é a história do vídeo, pois a ação que ele registra é mais uma  no cotidiano do Pré I.
      O que as imagens nos revelam?
     Se olharmos para elas com os óculos de profissionais detentores do saber e concisos de sua autoridade profissional diríamos que vemos uma criança que não interage com os colegas... Ou uma criança que se recusa a participar da atividade proposta para a turma, já que está sozinha ... Ou ainda uma criança que está querendo aparecer e não sabe que exercícios de balé devem ser feitos nas aulas de balé.
     Será ???
    Como já avançamos nesse processo podemos dizer que essa criança está nos dando uma ideia inovadora e que quem sabe poderíamos trazer o balé como tema para uma sequência ou projeto, pois como profissionais antenados sabemos que o interesse das crianças deve reger nossos planejamentos.      Mesmo???
     O que de verdade devemos ver nesse vídeo???
     Qual a melhor alternativa de ação?
     Ele é uma boa prática? Podemos usá-lo como referencia para outras turmas e propostas?
     Vamos retomar o que a Silvana de Oliveira Augusto nos diz sobre vivências e experiências no texto: A experiência de aprender na Educação Infantil. Baseadas nessa referência voltemos nosso olhar para o vídeo:
     O que o balé é para a turma do pré I ?
     O que desencadeou esse momento?
     Como ele foi organizado?
     Foi planejado? De que maneira?
      Para responder esses questionamentos precisamos entender o contexto dessa filmagem já que é o recorte de um momento no cotidiano dessa turma: O balé não entrou no planejamento da semana, no entanto as profissionais vêm ampliando o repertório musical das crianças e num dos momentos de audição apresentaram a elas uma música no formato das antigas caixinhas de música, alguns gostaram, a maioria estranhou, outros não se importaram porém para a criança em questão foi um momento importante porque o balé está em seu cotidiano e inclusive sua personagem preferida é uma bailarina.
      Mas que relevância têm essas informações?
    Todas as possíveis se estamos focadas em organizar planejamentos que respeitem as crianças. Nesse caso o planejamento não consistiu na organização de uma sequência didática para apresentar o assunto para a turma, mas na sensibilidade das profissionais em perceber que inserindo no contexto o elemento musical, essa criança conseguiu avançar em suas hipóteses trazendo para a brincadeira não só o que está aprendendo em suas aulas mas também o mundo mágico da história que gosta de ver.
       Porém ainda não estamos falando do contexto do vídeo em si, foram organizações realizadas em momentos anteriores. No dia em questão as profissionais trouxeram caixas de pizza porque as crianças estavam explorando os círculos, não planejaram brincadeiras circulares, apenas baseando-se no interesse da turma para enriquecer um pouco mais as experiências que vinham tendo, pensaram no material que poderia ser inserido nesse contexto.
      A maioria  das crianças seguiu na linha das rodas e dos rodopios com o material, porém a garotinha viu a possibilidade de criar sua própria caixinha de música e se empenhou para que esse fosse seu momento mágico... 
        Olhando para a filmagem podemos nos perguntar sobre a postura das profissionais que olharam e viram que esse era um momento importante, mas que foram brilhantes porque não fizeram nenhuma intervenção.
    Funcionaria da mesma maneira para todos? Provavelmente não, mas foi uma experiência riquíssima para aquela garotinha em questão..
       Voltando as reflexões:
       Onde entra o planejamento nessa situação?
       Como as profissionais conseguem controlar as crianças?
       A ordem é estabelecida de que maneira?
       Quem manda em quem?
        Como se trabalha no caos onde cada um faz o que quer?
Questionamentos muito validos mas que ilustram preocupações com uma maneira de fazer educação que não diz respeito ao que está sendo solicitado nos documentos nacionais, nos documentos da rede ou no PPP da unidade uma vez que todos esses documentos descrevem práticas que respeitam as crianças em suas experiências cotidianas.
     Precisamos avançar em nossas ações fazendo a relação direta das questões teóricas com nossas práticas cotidianas e só conseguiremos isso se estivermos dispostas a olhar e ver o que temos feito sem pensar que sabemos tudo, mas aprendendo a respeitar nossas crianças enquanto pessoas capazes com as quais poderemos interagir em trocas constantes de ensinar e aprender...
      Porque nessa perspectiva não planejaremos mais as ações mas os espaços e os materiais, ou seja, planejaremos as possibilidades, mas as ações dependerão das crianças, de seus repertórios, de suas hipóteses...
    Dessa forma a história de nossas pequenas bailarinas, heroinas, mães, motoristas... de nossos pilotos, construtores, dançarinos, cozinheiros terão finais felizes porque aprenderão que podem ser o que quiserem ser na medida que crescem e se apropriam de quem realmente são!!!